1 de Maio, 2020

A província de Luanda, a única até agora com casos positivos da Covid-19, vai ter, dentro de 15 dias, um hospital de campanha para acudira um eventual aumento de doentes no país. Adaptada em duas naves desocupadas da Zona Económica Especial (ZEE), em Viana, a unidade vai dispor de capacidade de mais de mil camas.

Dentro de 15 dias, começa a operar, na Zona Económica Especial Luanda-Bengo, um hospital de campanha para o tratamento da Covid-19.
Fotografia: Contreiras Pipa| Edições Novembro
Em declarações à imprensa, no final de uma visita efectuada, ontem, ao local, o coordenador da Comissão Multissectorial para Resposta à Covid-19, general Pedro Sebastião, esclareceu que uma das naves vai atender as Forças Armadas Angolanas (FAA) e a outra, civis. O também ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República disse que os trabalhos estão a ser feitos “a uma velocidade recomendável”, para impedir que a província seja apanhada desprevenida, na eventualidade de os casos de doentes da Covid-19 aumentarem.

As obras na nave destinada às FAA está já avançada em cerca de 70 por cento. Essa parte do hospital campanha, segundo Pedro Sebastião, vai ter uma capacidade máxima de até 600 camas e contará com um conjunto de valências recomendáveis para a Covid-19. “É evidente que não será um hospital de luxo, mas terá acabamentos aceitáveis”, garantiu.

Pedro Sebastião adiantou que a unidade hospitalar vai contar com três áreas fundamentais: uma para doentes leves, médios e UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Cada uma dessas áreas, prosseguiu, estará munida de equipamentos aconselháveis para este tipo de intervenção.
Segundo o chefe da Casa de Segurança, na nave reservada aos militares, vão ser privilegiadas as classes existentes nas FAA, tais como praças, sargentos e oficiais. As obras da nave para os civis devem arrancar amanhã.

O ministro de Estado esclareceu que se optou pelas naves da ZEE por estarem em estado de esquecimento. “Como sabem, aqui na Zona Económica Especial existem uma série de naves que estavam meio esquecidas. Em função disso, entendemos aproveitá-las o máximo possível, para criar aqui mais um pólo para assistência médica”, realçou Pedro Sebastião, para quem a unidade vai servir para prevenir o aumento de casos de Covid-19 em Luanda.

Um grande ganho

Para a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, o surgimento da unidade hospitalar representa um grande ganho para a assistência aos doentes infectados pela pandemia, que já provocou, até quinta-feira, no país, duas mortes. “Temos aqui um espaço vasto e muito bem ventilado”, realçou. Sílvia Lutucuta deu a conhecer que o hospital vai ter uma capacidade para até 140 camas em cuidados intensivos. A titular da pasta da Saúde disse que esta capacidade pode ser acrescentada, pois há uma área de cuidados intermédios com 35 camas, tanto para a primeira nave como para a segunda, com redes de gases.
Sílvia Lutucuta referiu que o número de camas disponíveis no hospital de campanha vem juntar-se às já existentes em outras unidades de atendimento aos doentes com o novo coronavírus, como é o caso do da Barra do Kwanza, que conta com 70 camas.
Além do hospital de campanha da ZEE, a ministra da Saúde anunciou, também para os próximos dias, o surgimento de mais um centro de tratamento à doença. “Trata-se de um edifício novo, localizado atrás do Hospital Psiquiátrico, com capacidade de até 100 camas”, adiantou.

Contaminação comunitária

Sílvia Lutucuta alertou que o país pode vir a atingir a fase de contaminação comunitária, se os cidadãos insistirem em violar as regras de prevenção à pandemia da Covid-19, implementadas pelas autoridades sanitárias. “Estamos a um passo da contaminação comunitária”, admitiu.
A ministra da Saúde salientou que apesar de todas as medidas implementadas pela Comissão Multissectorial de Acompanhamento à Covid-19, para evitar cenários piores, há ainda pouca colaboração dos cidadãos.
A governante sustentou que se não houver cooperação da população, vai ser difícil vencer o problema no país. “É importante que as pessoas tenham em conta que podem morrer. Nós não queremos óbitos no seio das nossas famílias. Estamos a lidar com um inimigo invisível”, aconselhou a também porta-voz da Comissão.
Sílvia Lutucuta exortou a sociedade a aprender com as experiências más e boas de países fortemente afectados pela doença. A ministra da Saúde disse que, até ao momento que falava, o país só tinha um caso de contaminação local (até à noite já eram quatro) e não seis, como defendem alguns médicos. Sílvia Lutucuta pede aos referidos médicos para terem em conta os conceitos epidemiológicos universais. “Ciência é ciência! E uma vez ciência, temos que cumprir os conceitos que estão muito bem definidos”, defendeu.
A contaminação local, esclareceu, ocorre quando um indivíduo que vem de fora (caso importado) contamina alguém localmente. No caso dos cinco jovens infectados, disse, vieram todos de fora e estiveram juntos em confinamento. “Eles nem sequer ainda saíram do confinamento para o convívio com a população. Só estaríamos em presença de contaminação local se eles tivessem, por exemplo, contaminado a empregada do hotel”, aclarou.

ISTM é um exemplo na lavagem das mãos

A visita dos membros da Comissão Multissectorial para a Resposta à Covid-19 iniciou no Instituto Superior Técnico Militar (ISTM), no Grafanil, em Viana.
A delegação avaliou o grau de implementação, pelas tropas, das medidas de prevenção da Covid-19. À saída deste local, o coordenador da Comissão, general Pedro Sebastião, não falou à imprensa, mas a equipa de reportagem do Jornal de Angola constatou a implementação rigorosa das medidas de segurança naquele estabelecimento de ensino militar. Por exemplo, ninguém acede ao instituto sem, antes, lavar as mãos com água e sabão ou colocar álcool em gel.
Ao partirmos para a Zona Económica Especial, um cenário chama a atenção. Muita gente na rua, como se não estivéssemos em Estado de Emergência. Para circular, muitos cidadãos adoptaram a estratégia de andar a pé, pois a fiscalização, sobretudo durante o dia, tem sido mais notada nas viaturas. Andando a pé, estes cidadãos tentam ludibriar os vários controlos colocados ao longo da via.
Eles estão conscientes que circulando de táxi mais facilmente são detectados, pois têm de exibir um documento que os habilite a tal. O Jornal de Angola constatou, igualmente, que os aglomerados são registados, sobretudo, em zonas onde há mercados informais ou terminais de pagamento automático, vulgos multicaixas.